Monitoramento da lavoura reduz despesas e aplicações de inseticidas
Nesta safra os agricultores paranaenses ficaram alarmados com a ameaça de possíveis danos que a lagarta helicoverpa poderia causar aos plantios de soja. De maneira geral, esse receio se transformou numa onda de aplicações preventivas de inseticidas. Porém, agricultores que tiveram suas lavouras acompanhadas pela extensão rural e fizeram o Manejo Integrado de Pragas (MIP) até agora não fizeram nenhuma aplicação de veneno nas lavouras. Além de livrar o ambiente de contaminação, o monitoramento possibilitou a redução de custos de produção.
De acordo com Paulo Cesa, agrônomo do Instituto Emater de Mamborê, na região de Campo Mourão, onde a soja está na fase de floração, a preocupação dos agricultores foi com os insetos do grupo das Heliothinea, conhecidas como as lagartas Heliothis e Helicoverpa. Cesa informou que nas áreas acompanhadas observou-se a presença destas lagartas em pequena população, assim como de outras espécies mais comuns na soja e sem a necessidade da aplicação de inseticidas. “Chamou muito a atenção que em meados de novembro a população de insetos aumentou um pouco, sendo encontradas até dois deles por pano de batida. Depois a praga desapareceu”. Cesa credita aos inimigos naturais, o controle das pragas. Sem a aplicação de inseticidas certos tipos de aranhas, tesourinhas, moscas, vespas, joaninhas e o percevejo do bem, chamado de podisus, puderam agir nas lavouras. Outro auxiliar neste trabalho foi o besouro tigre que se alimenta das lagartas. Num experimento na Embrapa o inseto chegou a devorar 17 lagartas pequenas, em 14 horas. Ficou evidente para agricultores, pesquisadores e técnicos a importância de manter os insetos benéficos no controle natural da helicoverpa especialmente nos primeiros 45 dias da lavoura.
Monitoramento contínuo.
Enquanto os produtores que fizeram o MIP não usaram veneno, na média da região os outros agricultores já fizeram duas aplicações antes da floração da soja. Sandro Cesar Albrecht, coordenador regional de lavouras do Instituto Emater de Campo Mourão, informou que em 20 unidades demonstrativas acompanhadas junto a agricultores familiares, em nenhuma delas houve a necessidade de inseticidas até o início da fase de floração da soja, devido a baixa população de pragas. “Mas é importante que os agricultores continuem a monitorar suas lavouras com o pano de batida, pelo menos duasvezes por semana, durante a floração e enchimento de grãos”, alerta.
Na região de Londrina os agricultores acompanhados pelos técnicos do Instituto Emater têm recebido visitas semanais para garantir o monitoramento das suas áreas e orientação sobre qual o momento adequado para se fazer o controle das pragas. Na opinião de Ildefonso Hass, coordenador regional, ainda não houve necessidade de aplicar inseticida nessas lavouras. “No início deste mês a infestação de lagartas manteve-se baixa e a espécie mais encontrada foi a lagarta da soja. A assustadora Helicoverpa não está sendo encontrada nos cem hectares das seis lavouras acompanhadas em Cambé. Em algumas outras áreas são contadas menos de 2 lagartas por amostragem. As lavouras que não receberam aplicação de inseticidas apresentam grande quantidade e diversidade de espécies de inimigos naturais sendo que a população de praga tem até diminuído, o que nos indica que eles estão cumprindo o seu papel”, afirmou Ildefonso. A situação é parecida na região de Toledo. Os extensionistas acompanham oito áreas de soja, e somente em uma delas foi feita a aplicação de inseticida para lagartas antes da floração.
Inseticida no campo
Nem todos os agricultores estão convencidos dos resultados do MIP e por isso mesmo os técnicos acreditam que nesta safra o uso de inseticida nas lavouras de soja do Paraná deve ser elevado. “Muito disso se deve a falta da adoção do MIP, com muitas aplicações desnecessárias antes da praga atingir o nível de dano econômico. O medo que se formou em torno da helicoverpa, até então desconhecida, contribuiu para esta realidade”, observou Nelson Harger, coordenador estadual da área de Grãos do Instituto Emater.
Segundo ele, nesta safra é possível que os agricultores que não monitoram as lavouras façam, em média, seis aplicações de inseticidas. Nas áreas monitoradas com o MIP, a média deve ficar em 2,5 aplicações. Harger ressalta que essas aplicações desnecessárias aumentam os custos de produção. “Para controlar a helicoverpa e o percevejo, com produtos específicos e seletivos, o produtor vai gastar duas sacas de soja por alqueire por aplicação”, afirma. Ele recomenda que o produtor continue a fazer o monitoramento, duas vezes por semana. “Toda vez que aparecer duas lagartas helicoverpa e dois percevejos após a floração por batida de pano, recomenda-se a aplicação de inseticida. Menos que isso é desnecessário, pois a praga não oferece dano econômico para a lavoura”, explica Harger.
A estratégia do Manejo Integrado de Pragas é uma das boas práticas recomendadas na agricultura paranaense e incentivada pela campanha “Plante seu Futuro” que integra iniciativas públicas e privadas visando a maior competitividade e sustentabilidade do setor.
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