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quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Mundo da reciclagem

Treze municípios da região de Piracicaba reciclam menos de 10% do lixo que produzem, diz estudo

Levantamento também mostra que, das 15 cidades avaliadas, cinco destinam 100% dos resíduos corretamente. Analista sugere taxas para custeio da gestão e soluções regionalizadas.

Por Rodrigo Pereira, G1 Piracicaba e Região



Central de Tratamento de Resíduos de Piracicaba: implantação ocorreu com três anos de atraso, diz Justiça — Foto: Divulgação/ Ares-PCJ
Central de Tratamento de Resíduos de Piracicaba: implantação ocorreu com três anos de atraso, diz Justiça — Foto: Divulgação/ Ares-PCJ

Treze cidades da região de Piracicaba (SP) reciclam menos de 10% do lixo produzido por sua população. Destas, seis não realizam qualquer aproveitamento destes resíduos.

Os dados são do o Índice de Sustentabilidade da Limpeza Urbana - ISLU 2020, elaborado pela consultoria e auditoria PwC Brasil em parceria com o Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana - Selurb, divulgado no último dia 3. Da região de Piracicaba, foram avaliadas 15 das 18 cidades.

Baseado em estatísticas de fontes oficiais de 2018, o índice avalia critérios como o percentual da população atendida pela limpeza urbana, quanto a prefeitura consegue arrecadar em taxas e tributos para destinar à gestão dos resíduos, quanto compromete do orçamento municipal, qual o percentual do lixo que tem destinação adequada e índice de reciclagem.

A partir destas análises, é calculado um índice que vai de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, melhor a qualidade da gestão dos resíduos no município.

Critérios avaliados e índice de cada cidade da região

Cidade% população atendida pela limpeza urbana% arrecadação específica para gerir o lixo% comprometimento do orçamento com gestão do lixo% destinação adequada dos resíduos% reciclagemISLU
Águas de São Pedro100%0,0%2,22%50%7,06%0,725
Capivari100%71,1%0,59%100%0,00%0,710
Charqueada96%68,9%0,47%50%9,27%0,725
Cordeirópolis96%16,1%4,23%0%2,27%0,572
Cosmópolis97%46,3%1,10%100%0,00%0,704
Elias Fausto99%52,8%1,48%98%0,00%0,682
Ipeúna100%32,6%1,89%81%18,52%0,731
Iracemápolis98%0,0%0,76%85%14,71%0,744
Limeira97%6,9%2,88%98%0,69%0,679
Mombuca82%0,0%1,48%85%0,00%0,671
Nova Odessa100%39,9%1,35%92%8,18%0,726
Piracicaba100%30,9%3,74%100%2,10%0,674
Rio das Pedras100%0,0%3,53%100%0,00%0,666
Saltinho100%100,0%0,00%71%0,00%0,728
Santa Bárbara d'Oeste99%0,0%2,15%100%0,27%0,693

Quanto à reciclagem, os melhores percentuais são de Ipeúna (SP), que reaproveita 18,52% do que se descarta, e Iracemápolis (SP), que reutiliza 14,71%. Já Capivari, Cosmópolis, Elias Fausto, Mombuca, Rio das Pedras e Saltinho não reciclavam qualquer parcela do lixo, diz o estudo.

Assessor Econômico do Selurb Leonardo Silva aponta que o índice considerado ótimo de reciclagem é de 30%, considerando-se materiais que não podem receber novas destinações.

"Isso seria uma média ideal para se estabelecer para os municípios. [As cidades da região] estão longe do que seria o minimamente aceitável, levando em consideração o que compõe um saco de lixo doméstico", avalia. Segundo ele, o índice de reciclagem no Brasil, em média, é de 3,8%.

Destinação adequada

O ISLU também mostra que cinco das 15 cidades da região avaliadas dão destinação adequada a 100% lixo produzido.

A destinação considerada correta em relação à realidade brasileira é o envio a aterros sanitários, segundo Silva.

Já os considerados incorretos são a destinação a lixões e a aterros controlados, que são lixo cercados e com cobertura, mas sem tratamento correto do chorume e gases, segundo o assessor econômico.

Aterro sanitário em Limeira: espaço mais indicado para destinação de resíduos — Foto: Prefeitura de Limeira
Aterro sanitário em Limeira: espaço mais indicado para destinação de resíduos — Foto: Prefeitura de Limeira

Os menores índices neste quesito foram de Águas de São Pedro (SP) e Charqueada (SP), que dão destinação certa para 50% dos resíduos, e Cordeirópolis (SP), que não tratou corretamente qualquer parte dos materiais descartados.

"No ano que foi reportado esses dados, que é de 2018, o que acaba prejudicando Cordeirópolis é que naquele ano ela reportou que os resíduos dele iam para um aterro controlado, então o impacto ambiental acabou sendo alto, rebaixando a nota dele", explica Silva.

Com isso, o ISLU da cidade ficou em 0,572. O analista explica que a partir de 0,6 o nível de aderência as políticas nacional de resíduos sólidos é considerado médio. A partir de 0,7, é considerado alto.

Na região, oito cidades tiveram índice considerado alto e seis tiveram nível médio.

Coleta de lixo em Nova Odessa: analista sugere taxas para custeio do serviço — Foto: Divulgação/ Prefeitura de Nova Odessa
Coleta de lixo em Nova Odessa: analista sugere taxas para custeio do serviço — Foto: Divulgação/ Prefeitura de Nova Odessa

Arrecadação e orçamento comprometido

O estudo também levantou o percentual dos orçamentos municipais comprometidos com a gestão do lixo. Neste quesito, os maiores comprometimentos foram em Cordeirópolis (4,23%), Piracicaba (3,74%), Rio das Pedras (3,43%) e Limeira (2,88%).

Em relação às despesas, Silva defende que haja transferência do custo para um sistema de cobrança de tarifa ou taxa pela geração de lixo.

"Quando a pessoa sabe o quanto ela paga pela destinação final ela começa reduzir aquilo que ela gera. [...] Ela começa a separar os resíduos para reciclagem, porque ela geralmente tem um abatimento em cima da tarifa, da taxa, para aquilo que é reciclado", aponta.

Ele observa que é possível realizar a cobrança levando em consideração as condições socioeconômicas de determinadas regiões da cidade.

Soluções coletivas

Para o analista, um dos caminhos para a melhoria dos índices passa pelas soluções regionais para gestão dos resíduos, o que possibilita a divisão de despesas.

"o que chama a atenção é que você tem municípios que possuem uma população pequena como Saltinho, Ipeúna e Elias Fausto, mas que conseguiram dar uma destinação principalmente correta e acabar com os lixões através do que a gente chama de soluções regionalizadas. Então, a maioria destes municípios, Iracemápolis, Ipeúna, Saltinho, eles se juntaram num aglomerado de municípios para pensar numa solução regional", exemplifica.

O que dizem as prefeituras

A Prefeitura de Piracicaba informou que, em 2018, gastou R$ 85.627.976,90 com a gestão de resíduos sólidos e limpeza urbana e, naquele ano, a cidade gerou um total de 111.885,15 toneladas de resíduos sólidos.

O governo municipal apresentou número diferentes em relação à reciclagem, apontando que das mais de 111 mil toneladas de resíduos sólidos, 3.539,50 toneladas foram reaproveitadas (3,16%). "Porém, considerando que apenas 36% de todo o montante de resíduos coletados é reciclável, a taxa de material reciclado na cidade na verdade é de 8,78%", acrescentou.

Também citou que coletou os resíduos que são de responsabilidade dos fabricantes e afins, os chamados resíduos de Logística Reversa, como pilhas e baterias, lâmpadas fluorescente, eletroeletrônicos, pneus e outros.

"O município de Piracicaba atende à risca o que a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) preconiza. Tanto que a cidade já está na terceira revisão do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos Urbanos (PMGIRS)", completou.

As secretarias de Obras e Serviços Públicos e Meio Ambiente e Agricultura de Limeira informaram, em nota, que vêm realizando trabalhos de conscientização e educação ambiental com a população, de forma a intensificar e ampliar o descarte ambientalmente adequado dos materiais recicláveis, por meio da coleta seletiva, bem como reduzir a ocorrência de descartes irregulares em áreas verdes.

A Prefeitura de Nova Odessa elencou uma série de ações e investimentos realizados nos últimos anos:

  • Inauguração do segundo ecoponto, em janeiro;
  • Limpezas frequentes de locais "viciados" de descartes irregulares, a fim de realizar a destinação correta e também evitar novos descartes;
  • Instalação de câmeras para flagrar descartes irregulares num ponto crônico da cidade;
  • Reforma do LEV (Local de Entrega Voluntária) de materiais recicláveis instalado no Bosque Manoel Jorge.
  • Desenvolvimento de programas de educação ambiental formal e não formal sobre os resíduos sólidos e a coleta seletiva com estudantes;
  • Aquisição de uma varredeira mecânica para otimizar a varrição dos logradouros públicos;
  • Conquista de novo caminhão para a coleta seletiva junto ao governo estadual;
  • Início de estudo gravimétrico para definir o novo Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos;
  • Instalação de 110 contêineres para facilitar e dinamizar a coleta de lixo orgânico na cidade;

O Plano Municipal de Saneamento (2019-2039) da cidade prevê investimento de R$ 805.911,17 na ampliação da coleta seletiva.

As demais prefeituras não responderam as solicitações de informações da reportagem.

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