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sábado, 7 de novembro de 2020

ELEIÇÃO NO USA LONGE DO FIM

Em 2000, eleição nos EUA foi judicializada e resultado levou mais de um mês

Foto de 19 de dezembro de 2000, o vice-presidente Al Gore acompanha o presidente eleito George W. Bush para uma reunião - Arquivo/Reuters
Foto de 19 de dezembro de 2000, o vice-presidente Al Gore acompanha o presidente eleito George W. Bush para uma reuniãoImagem: Arquivo/Reuters

Carolina Marins

Do UOL*, em São Paulo

06/11/2020 19h31

Há três dias hoje, o resultado das eleições nos EUA segue indefinido, e há chances de demorar ainda mais. A última vez que um resultado demorou tanto foi em 2000, na famosa disputa entre George W. Bush e Al Gore, quando houve judicialização e o resultado só saiu 37 dias depois.

Na época, os americanos tiveram que esperar cinco semanas para que o republicano Bush fosse nomeado presidente, em detrimento do democrata Al Gore. Uma batalha judicial deixou o país em suspense e exigiu arbitragem sem precedentes da Suprema Corte.

Se hoje as tensões estão ao redor dos estados da Pensilvânia, Geórgia, Nevada e Wisconsin, naquele ano a batalha foi no estado-chave da Flórida.

Os candidatos Donald Trump e Joe Biden estão há dois dias estacionados com seus 253 votos para o democrata e 214 para o republicano, segundo o jornal americano The New York Times.

Com as ameaças de Trump de que irá judicializar a eleição e os pedidos de recontagem de votos, ainda não se sabe quando o resultado deve sair. Gritos como "Parem as contagens" ocorreram em 2000 e se repetem agora, inclusive na voz do próprio presidente.

Bush X Al Gore

A disputa Bush versus Al Gore ocorreu em 7 de novembro de 2000. Bush era governador do Texas na ocasião e Al Gore era vice-presidente.

A tensão começou quando as televisões, em uma disputa de quem daria o resultado primeiro, declararam um vencedor na Flórida, embora a diferença entre os dois candidatos fosse de apenas 0,5 ponto em um estado com valiosos 29 delegados.

As redes de televisão primeiro deram a Gore a vitória no estado-chave, depois a Bush.

Al Gore chegou a parabenizar Bush, e estava a caminho de fazer o seu discurso de derrota, quando foi notada que a situação no estado não estava clara. Ele ligou novamente para Bush para retirar as felicitações e iniciou-se as batalhas. Tudo isso na madrugada de 7 para 8 de novembro.

Logo em seguida, várias irregularidades foram denunciadas na Flórida, então governada por Jeff Bush, irmão do candidato republicano: uma urna foi encontrada em uma escola e milhares de votos foram invalidados no condado de Palm Beach, com população majoritariamente negra, entre outros.

Decisão na Suprema Corte

A longa batalha legal começou após a alegação de Gore, em 9 de novembro, de conduzir uma contagem manual em quatro condados do estado, incluindo Palm Beach.

No cerne da confusão, estava o fato de as máquinas de perfuração usadas em Palm Beach para contar os votos não marcaram bem as cédulas, saturando a comissão eleitoral que deveria decidir sobre a validade do voto.

Em 26 de novembro, a Flórida proclamou a vitória de Bush por uma diferença de 537 votos. Al Gore rejeitou o resultado, alegando que milhares de votos não foram contabilizados.

Em 8 de dezembro, a Suprema Corte da Flórida decidiu a favor do candidato democrata, ordenando a recontagem manual de mais de 45.000 cédulas ignoradas pelas máquinas. No entanto, a Suprema Corte dos Estados Unidos interrompeu esse processo em resposta a um pedido de Bush.

Em 12 de dezembro, a máxima corte, em sua primeira intervenção em uma eleição presidencial, determinou que o prazo para a recontagem manual havia se esgotado, pois tinha expirado o prazo para os estados resolverem os conflitos decorrentes das eleições e indicarem seus eleitores no Colégio Eleitoral.

Assim, Bush foi eleito presidente por 271 votos do Colégio, um a mais que os 270 exigidos. Gore não chegou à Casa Branca apesar de registrar mais votos nacionalmente, algo que não acontecia desde 1888.

O juiz da Suprema Corte, John Paul Stevens, que votou contra a decisão, disse: "Embora a identidade do vencedor nunca seja conhecida com certeza total, a identidade do perdedor é perfeitamente clara: a confiança do país em seus juízes".

Al Gore reconheceu, então, a derrota: "Há pouco, falei com George W. Bush e o cumprimentei por se tornar o 43º presidente dos Estados Unidos. E prometi a ele que, desta vez, não voltarei a ligar [para retirar a felicitação]".

O caso repercute nos Estados Unidos até hoje e provocou mudanças nas eleições do país, em especial na contagem dos votos. O que justifica a cautela da Pensilvânia em contar cada um dos votos, evitando assim um novo caso "Flórida de 2000".

Uma cena semelhante que ocorreu ontem nos EUA e em 2000 foi uma multidão pedindo que parassem as contagens. Na época, um grupo de apoiadores republicanos no condado de Miami queriam impedir a recontagem de votos no local.

*Com AFP

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